sábado, 23 de abril de 2011

Rio - O Filme

Bom, demorou mais de um ano, mas, como prometido, finalmente venho aqui escrever o meu primeiro artigo depois do poema de apresentação.


Ontem eu fui ao cinema ver o filme "Rio", do diretor Carlos Saldanha, que, como todo mundo já sabe por via da sua campanha publicitária super eficaz, foi o mesmo cara que co-dirigiu "Era do Gelo", sucesso de bilheteria e, na minha opinião, ótimo filme.
Esbanjando exuberância e riqueza de detalhes apesar de possuir uma história simples e sem muitos rodeios, "Rio" é um ótimo filme para se levar as crianças ao cinema ou para se assistir com a família. O interessante é que, provavelmente pela própria mão do diretor, bom brazuca e carioca, "Rio" quebra o estigma de filmes americanos que generalizam a realidade brasileira como "mais um daqueles países latinos que vêm depois do México, lá pra baixo" e cria uma ambientação bem próxima à brasileira mesmo.
Descrever a complexa atmosfera carioca é uma tarefa difícil, e descrevê-la em sua integridade naturalmente não é objetivo do filme, voltado para o tema infantil (e claro, não sejamos ingênuos, principalmente para o tema turístico, também); ainda assim, analisando-o por esse viés infantil, fora algumas licenças poéticas, "Rio" quase não deixa a desejar em relação à contextualização da história em um universo carioca, mesmo que esteja na cara que esse seja essencialmente um universo de descrição turística. O elemento que contribui para que o expectador tenha uma visão mais apurada de alguns aspectos do Rio e da cultura brasileira é, sem dúvida, os inúmeros e precisos detalhezinhos espalhados pelo filme, que dão vida a esse contexto carioca.
Só para citar alguns deles: o ornitólogo trabalha no RioZoo, recriado através de seu portão de entrada inconfundível; após o roubo de Blu do zoológico: o uniforme do PM é bem fiel, com direito à bandeirinha do estado do Rio e outros detalhes bem característicos; o pátio do Cristo também se parece muito com sua versão de verdade; as ruas de Santa Teresa, e o bonde; a beira da praia e seus elementos: as cadeiras e mesas vermelhas dos quiosques, as pessoas jogando futevôlei na areia; a comoção logo antes do gol no jogo do Brasil contra Argentina; o ipê rosa ao fundo da cena final do filme; a camisa 10 verde e amarela do menino da favela; até a bunda da morena, tão polêmica nas propagandas turísticas dos anos 70 e 80, tem lugar na recriação da cidade.
Dentre todos esses detalhezinhos, o que de longe mais me chamou a atenção foram os miquinhos e seu papel no filme; eles participam de uma parte do filme um tanto curta, considerando-se a história como um todo. Na cena no Cristo Redentor, eles dançam, distraem, roubam os turistas e logo depois vão se divertir em um baile funk expondo seus anéis, brincos e relógios roubados, juntamente com alguns adereços próprios de estilo estético um tanto duvidoso, é bom notar; até aí tudo bem, consegue ser até um retrato surpreendentemente condizente com a realidade carioca considerando-se o tema infantil do filme. Mas um detalhe disso que não me escapa da mente é o seguinte: eles não passam de macacos. Posto exatamente assim, pelo filme.
Mesmo que você não o tenha visto, é só reler o parágrafo que vem antes do anterior para se convencer de que os caras que estiveram envolvidos com toda a relação do filme com o Brasil tinham ótimas referências e provavelmente consultores igualmente ótimos sobre todo e qualquer aspecto da cultura brasileira: é óbvio que não se faz um filme assim com meia dúzia de americanos que leram livros sobre o Brasil. Eu sinceramente não sei muito bem qual é o peso da palavra "monkey" no inglês, mas certamente não deve ser tão menos racista e depreciativo quanto chamar alguém de macaco no português, principalmente porque refere-se a metáfora à população da favela, majoritariamente composta de negros. Agora, voltando à história das referências, deduzindo-se que a produção do filme tinha à sua disposição uma equipe muito boa de consultoria sobre os assuntos do Brasil, seria ridiculamente ingênuo achar que esse detalhe da história tenha sido meramente acidental, que não tenha sido previsto por ninguém, e que as pessoas simplesmente tenham feito vista grossa para deixá-lo passar e entrar na trama.
Tentando amenizar o efeito discriminatório e segregativo da metáfora, pode-se imaginar que o filme chame de "macacos" apenas os que fazem parte do grupo de ladrões. 'Tá bom, pode até ser; não sei a você, mas pelo menos a mim isso não convence, considerando os efeitos ruins que a análise simplificada de uma realidade tão complexa quanto essa traz, mesmo que ela aconteça num filme meramente infantil (às vezes o fato de ela acontecer em um filme voltado para crianças pode piorar ainda mais as coisas).
Fora essa metáfora e suas decorrências, que, para dizer a verdade, ocorre em um lance um tanto rápido do filme (e que para muitos talvez tenha passado despercebido), "Rio" de fato não é um filme racista. Sendo justo: se fosse, não exibiria a realidade do menino da favela que não tem pai, mãe ou qualquer tipo de família e que vende seus serviços ao tráfico (que no filme é retratado como o tráfico ilegal de animais) para poder continuar a sobreviver em sua vida miserável. Também, se fosse racista, provavelmente retrataria as pessoas da favela (em sua forma "real", e não através da metáfora dos micos) de um jeito completamente diferente, e não como pessoas comuns que são, como todo mundo. Me senti à vontade para descrever a parte dos miquinhos longamente em relação ao resto do texto simplesmente porque foi algo que me saltou muito aos olhos, e quero reiterar que, considerando o todo da obra, "Rio" não é um filme racista.
Finalmente, eu acho que vale à pena ir ao cinema para ver esse filme. Não para esperar alguma história muito bem desenvolvida, mas para curtir suas cores, suas músicas, suas intertextualidades, piadas, cenas bonitas e qualquer outra coisa que agrade os sentidos e que proporcione a prazerosa diversão que se espera quando se vai ao cinema.

Pierluigi Piccolo Raso
Indigoweise 02

8 comentários:

VictFil disse...

estamos esperando....... [opa, eu também faço parte do blog, em vez de comentar eu deveria postar algo! =O]

Unknown disse...

Que beleza Pierluigi eu não vi o filme ainda mas esse teu comentário ta o máximo abraços meu velho.

Unknown disse...

Valeu,vou assistir o filme com a minha família.

Anônimo disse...

Marcos...
Mas o caso é que minha amiga queria ver o filme Rio essa semana e tudo mundo se animou, ela trabalhou anos na Disney e fêz coisas lindas no Pocahontas e outros..
Pra resumir entrei no face e vi seu comentario sobre o blog e a crítica do filme...pelo seu filho! eu lí e gostei muito da imparcialidade, separou muito bem o trabalho fabuloso de outros aspectos. Então parabéns! seu menino me ajudou a pensar e querer conferir o filme.
Julita Perez.

Anônimo disse...

Gostei muito de ler seu comentário Pierluigi, pois me lembrou de tudo que vi, muito bom, Meus Parabéns!
Marcos Raso.

Regina disse...

Que bárbaro, estou orgulhosa de ser amiga de um crítico de cinema, vc arrasou Pierluigi, bjksss

Elfi Kürten disse...

Pierluigi, muito bom sua abordagem!. Gostei da forma que apresenta o filme. Dá ao leitor/espectador, uma visão geral da obra, chamando atenção para os pontos positivos e fazendo uma crítica ponderada sobre outros aspectos e temas abordados dentro da trama.

Ótima dica no final, porque vale à pena ir ao cinema e ver o filme. Espero que continue escrevendo outros artigos sobre cinema e cultura. abraços

Anônimo disse...

o filme é racista pra caralho

tirando isso, é um bom filme hehe

mas porra, racistão o filme, os negros = maus
os macacos = traficantes

e por ae vai.

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