domingo, 19 de junho de 2011


Uma vez, criança eu era em tempos idos de outrora,
minha mãe me pôs para dormir.
E meu pai me contou histórias
Sobre reis e dragões
e príncipes e princesas
e terras distantes, e maravilhas diversas
Até onde os limites da imaginação permeiam.

Então adormeci.
E com meus próprios olhos tais limites eu vi
E por entre guerras e aventuras e fantasias eu vivi
E a tonalidade exótica e o ritmo envolvente de muitas músicas eu ouvi
E o calor e o frio de muitas estações a fio, eu senti.
E por muito, e muito
E muito tempo, no topo da montanha de sonhos que construí,
eu permaneci.

Até que me percebi.

E então despertei
E meu pai e minha mãe não estavam mais ali.
Rangiam as dobradiças da porta e assobiava agudo o vento pela janela
Tentei me levantar, mas por um instante derrotou-me o peso do tempo
O peso do tempo que passa
e não se percebe.

Finalmente venci minhas juntas relutantes
e arrisquei alguns passos tímidos.
Até que olhou-me de viés o espelho
e pude ver o que se sucedera:
Minha longa barba branca era feita de sonhos
que pelo chão se esparramavam
sem fim à vista
As rugas em minha face perfaziam labirintos de idéias
incontáveis idéias concebidas mas não utilizadas
que jaziam ali, com o tempo
E a profundeza dos meus olhos era feita de esquecimento
e descompromisso com as eras, que
como longo exército,
pareciam que tinham acabado de marchar sobre mim.

Voltei tais olhos para minha cama
e vi que ela também era construída de ilusões e irrealidade.
Tentei me lembrar, mas tudo o que restava na minha mente
era o momento logo anterior ao meu adormecer.

Achei-me de repente jogado nessa desolação,
resumia-se minha vida a isso.
Achei-me de tal modo que não poderia dizer
Quem eu fui
Quem viria a ser
E quem era eu.



Quem sou eu?









(O título do poema é a própria imagem.)